Metrópolis

Metrópolis – Literatura e cinema

No título desse artigo você já viu algo de diferente. Quando eu falo de Metrópolis não posso falar ou de literatura ou de cinema. Afinal, nessa obra os dois aspectos estão particularmente interligados.

Quando se fala em Metrópolis pensa-se logo na versão cinematográfica alemã lançada em 1927 e com direção de Fritz Lang. É triste dizer, mas apenas o nome dele ficou atrelado à obra.

Entretanto, é preciso fazer justiça e lembrar que Metrópolis – bem como outros filmes de Fritz Lang – não seria nada sem Thea Von Harbou.

Thea idealizou a história, escreveu o livro, transformou-o em roteiro. Além disso, ela trabalhou na produção, auxiliou no desenho das cenas e deu seus palpites na direção. Entretanto, ela foi esquecida pela história.

Talvez ela tenha ficado à sombra de seu ex-marido, Fritz Lang. Mas também é provável que isso tenha se dado pelo fato de que Thea, alguns anos depois do lançamento da obra, se apresentou como nazista – porém, é preciso lembrar que Coco Channel também era nazista e – infelizmente – segue sendo idolatrada.

E não é apenas uma questão de ser favorável ao movimento. Thea Von Harbou foi filiada ao partido e presidente da Associação Alemã de Autores de Filmes Falados.

Como ela conseguiu esse cargo? Simples, “Metrópolis” era o filme favorito de Hitler. Sinto muito fãs apaixonados, mas o ideal fascista permeia toda a obra e é necessário falar sobre isso.

Thea e Fritz Lang

O intuito do blog é sempre indicar obras. Metrópolis é uma obra muito boa, mas o ideal é que ela seja lida como é, uma obra que nos mostra ideias fascistas.

É bom ler, entender a forma de pensamento dessa corrente ideológica, mas é importante lembrar que tipo de mensagem deveria ser passada por essa obra.

Um ponto engraçado é que Fritz Lang não aceitou participar do partido nazista. Quando ele percebeu a importância que a obra tinha para Hitler, ele fez questão de dizer que era tudo ideia de Thea, mas mesmo assim ele é o único a receber conhecimento na atualidade.

No livro lançado pela editora Aleph há uma fala de Lang que mostra bem esse fato:

“O argumento central foi da sra. Von Harbou, mas sou ao menos 50% responsável, porque rodei o filme. Não tinha tanta consciência política quanto tenho hoje. Não se pode fazer um filme socialmente consciente dizendo que o mediador entre a mão e o cérebro é o coração – quero dizer, esta é uma fábula na verdade. Mas eu me interessava por máquinas”.

Chega a ser risível a ideia de que o senhor Fritz Lang gravou toda a obra sem entender do que ela falava. Entretanto, é compreensível que ele tenha procurado se dissociar completamente do partido que tomava conta da Alemanha. Especialmente pelo fato de que ele tinha origem judia.

Porém, volto a bater na tecla para dizer que seu plano não deu muito certo. Afinal, parece que a obra pertence apenas a Fritz Lang.

Metrópolis nas páginas e nas telas

Vou tentar ao máximo evitar qualquer tipo de spoiler. Mas acho que é melhor você ler a partir daqui somente se já tiver tido contato com o livro ou com o filme.

Como os dois foram escritos quase de forma simultânea e pela mesma pessoa, há uma quantidade ínfima de diferenças entre as obras. Eu recomendo primeiro a leitura do livro e depois o filme, mas isso é uma mania minha.

Agora, se você não gosta de filmes mudos, então é obviamente mais recomendável a leitura do livro.

Metrópolis e a política

Toda obra é pautada em um ponto, como disse o próprio Fritz Lang: o mediador entre o cérebro e as mãos deve ser o coração.

Poeticamente essa imagem é muito bonita. Se você estiver falando sobre a forma de agir de uma pessoa, então é uma visão realmente está apresentando uma visão muito lírica da forma de viver.

Entretanto, se nós estamos falando da organização social de uma cidade… nós temos um grave problema. Na visão de Thea há uma cabeça – o governo – e uma mão – o proletariado. No meio dos dois, um intermediário, o coração.

Afinal, a cabeça não entende como a mão trabalha e a mão não tem cérebro e, consequentemente, não pode entender como a cabeça pensa. Logo, trabalhadores não são inteligentes.

Na obra, os trabalhadores insatisfeitos tem uma resolução bem digna de Marx. “Trabalhadores do mundo, uni-vos”. Qual o resultado? Inundação da cidade, que quase provoca a morte dos filhos de todas as pessoas das classes baixas.

O que a obra nos mostra é que o agrupamento de trabalhadores gera uma anarquia. Consequentemente, nós teríamos o caos e, consequentemente a destruição da sociedade. Destruição essa que começa nas classes mais pobres.

Ou seja, trabalhadores do mundo, uni-vos para a destruição de vós mesmos. Sem a capacidade de compreensão da organização da cidade, a obra aponta que uma revolta da mão de obra só pode causar o caos, pois falta liderança e pensamento racional.

Porém, também seria uma ideia de que o trabalhador não poderia ser oprimido pela liderança. Ou seja, o melhor tipo de propaganda para conseguir o apoio dos trabalhadores.

Sabe quem utilizou frases semelhantes para convencer o povo alemão sobre a necessidade da guerra e a importância de uma reforma da nova Alemanha? Joseph Goebbels.

Então a obra é nazista?

Acho muito difícil determinar a obra como nazista. Afinal, ela surge muito antes da criação do partido. O que acontece é um flerte excessivo com os ideias do fascismo.

Inclusive, é importante dizer que na época em que o livro foi escrito havia uma grande preocupação com relação a substituição do homem pela máquina.

Mas em Metrópolis, quem causa a destruição é a greve.

O fascismo é uma ideologia que se apoia nos medos da sociedade. Não existe fascismo sem um inimigo que espera para destruir nossa forma de vida.

Thea nos apresenta esse inimigo. Além disso, ela mostra como é importante não contestar os governantes e como pode ser necessário o uso da violência em alguns casos.

Afinal, somente a barbárie livra os trabalhadores da alma da greve, da Maria máquina.

Metrópolis é um daqueles clássicos polêmicos. É inegável o talento e a qualidade das obras – tanto a literária quanto a cinematográfica – mas é preciso observar e ter cuidado com as mensagens apresentadas.

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O filme está no YouTube

O livro:

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