Macha, Morte é um projeto lindo. É uma áudio série que teve sua primeira temporada finalizada. Venha conhecer mais sobre a história e o seu criador.
Em primeiro lugar quero agradecer ao criador de “Macha, Morte”, Gabriel Claudino por essa entrevista. Nós somos muito amigos e eu estou muito feliz de poder falar sobre um projeto seu no blog. Obrigada!
Senhoras e senhores, com vocês, Macha, morte!
Gabriel, apresente a você e ao projeto Macha, morte
Eu sou Gabriel Claudino, tenho 25 anos e sou um artista de São Paulo. Trabalho como ator e escritor. Bacharel em Letras pela USP, ator profissional e muito interessado nas diversas formas de comunicação dentro da arte e do universo da escrita, sobretudo apaixonado pela atuação de voz.
“Macha, Morte” é uma série de aventura lançada em formato de áudio. Ou seja, um “Podcast Narrativo” ou simplesmente uma “Áudio Série” . O projeto está disponível tanto no Spotify, quanto em Youtube/MachaMorte.
A história começa quando Macha, uma jovem de vinte e poucos anos, acorda no leito de um hospital sem memória de como chegou ali. De repente, é surpreendida por uma estranha neblina que a transporta para lugares onde alguém está prestes a morrer.
A cada novo episódio, acompanhamos essa sua jornada fantástica, onde a garota descobre mais sobre a vida, o mundo e si mesma.
Como surgiu Macha, morte? Além disso, fale mais sobre o processo de criação
“Macha, Morte” foi uma história lançada primeiramente em formato de “quadrinhos”, em 2018, no meu Instagram pessoal. Cada capítulo era uma imagem com o texto compondo a ilustração.
Foram 30 capítulos, mas sempre achei que não era o formato ideal. Depois de um mês apaguei todos os posts e engavetei os desenhos, com vontade de revisitar algum dia talvez como um romance.
Segui me dedicando ao teatro e à especialização com atuação de voz – dublagem, voz original para animações/produções brasileiras, locução, narração – até que chegamos à pandemia.
No ponto de tensão – acho que geral da população -, me vi em movimentação para ajudar às pessoas próximas, seja em mantimentos, contas, conversas, e só aí percebi que estava bastante assustado.
Compreendendo isso, enxerguei um medo pessoal que não queria deixar acontecer: deixar de desenvolver projetos comunicativos durante o tempo de isolamento físico. Assim, por poder reunir os privilégios que cercam o meu cotidiano (ter uma casa, acesso à internet, um equipamento improvisado mas de boa qualidade para gravação) decidi começar a criar algo que envolvesse comunicação à distância e atuação de voz, que é a forma expressiva que mais me identifico na arte.
A vontade era fazer leituras dramáticas de poesias, contos ou crônicas… mas então lembrei de “Macha, Morte”. Primeiro, pensei em gravar uma leitura do texto já escrito e, novamente, publicar no instagram.
Contudo, retomando o contato com o material, percebi que tinha a chance de fazer outra coisa diferente se contasse com a ajuda de amigos talentosos.
Por isso adaptei o texto original para um roteiro com mais interações entre as personagens e uma narração próxima da prosa.
Além disso, improvisei um estúdio com cobertores no meu guarda-roupa, para captar o som sem ruídos, já que sou o narrador. Por último chamei amigos artistas para serem as vozes.
O que as pessoas devem estar preparadas para ouvir?
Acho que acima de tudo, as pessoas vão ouvir uma história de libertação e busca por identidade.
Macha vive em um universo repleto de mistérios e com um passado mágico, porém o presente daquele mundo está em ruínas, quase em suspensão.
Para curá-lo, ela precisa se sentir parte dele. Por isso sua jornada ao longo dos 30 capítulos é de reconhecer a sua natureza e explorar as potências do que é capaz de fazer.
E, bom, eu sinto que preciso dizer que as pessoas podem se preparar para ouvir atuações incríveis do elenco e muitos sons inesperados dos ambientes onde cada cena se passa. Porque a série é sonorizada e musicada do começo ao fim!
E por que num formato puramente auditivo? Acredito que o áudio proporciona a quem está interagindo a chance de projetar/exercitar sua própria imaginação na construção do que é sugerido pelos sons.
É como se o espectador pudesse sair um pouco da pandemia e brincar com os elementos da história usando só sua mente, preenchendo com as suas próprias cores os detalhes da composição.
A minha estética quanto realizador está na trama que criei e naquilo que pretendo gerar pelas interações dos diálogos e sons com as músicas da trilha sonora ou efeitos, mas é quem está ouvindo que coloca sua expectativa visual sobre aquilo que apenas está sugerido na obra puramente sonora.
Tem algo de vivo nessa interação entre artista e espectador que lembra as trocas e acordos com o público no teatro. E eu acho isso bonito.
Quais as maiores dificuldades de gravar na pandemia?
Todas as gravações foram remotas. Cada artista em sua casa e captando o som com equipamentos disponíveis.
Eu fazia a direção por vídeo chamada. Isso foi desafiador, mas não foi o pior.
As maiores dificuldades envolveram a falta de recursos. Por exemplo, não há verba para divulgação. Além disso, não pude contratar um profissional de mixagem e sonorização.
Tive que cuidar sozinho, estudando tutoriais sobre como utilizar ferramentas de edição, consultando e pedindo opinião de colegas que são técnicos, editores e artistas de som para aprender sobre:
- tratamento de um arquivo de áudio;
- identificação de quando uma gravação se perdeu por ruído ou por uma onda estar estourada.
Aprendi muito, mas não abro mão de dizer que ter alguém com experiência neste ramo trabalhando integralmente nos capítulos teria sido enriquecedor.
O mesmo acontece com trilha musical e efeitos sonoros. Todos são de domínio público. A única exceção é a música de abertura, “Ciranda”, composição de José Pedro (que também integra o elenco como Rodolpho).
Este fato acaba influenciando no tempo de finalização dos episódios, pois era preciso encontrar músicas que se encaixassem no tom planejado para as cenas ou criar composições autorais com o que havia disponível.
Felizmente, consegui pagar o elenco pelo trabalho. Tive a sorte de ter feito economias e tido condições para isso durante uma pandemia. Fiquei muito feliz de pagar a todos um valor justo, pois são amigos e sentiram os efeitos da Covid nas artes.
Captar recursos é sempre uma batalha para artistas. Durante uma pandemia e com poucos editais ou incentivos culturais, virou uma tarefa homérica.
“Macha, Morte” tem outra particularidade neste ponto que é o desafio de encaixá-lo numa pré-definição dos editais, pois não pode ser identificado como produção teatral, audiovisual ou musical, é um formato muito específico e nichado, logo limita inscrevê-lo.
Podemos esperar uma segunda temporada?
Sim! Neste momento comecei a pré-produção da próxima temporada, mas ainda não tem uma data prevista para as gravações ou o lançamento.