Um pouco de história
Publicado pela primeira vez em 1848, a Dama das Camélias é uma obra que se encaixa no Romantismo. Seu autor, Alexandre Dumas Filho, escreveu esse livro inspirado em sua própria vida.
Por mais que Dumas Filho tenha recebido o nome em homenagem ao seu pai – Alexandre Dumas -, ele continuava sendo um bastardo. Nascido em 1824, ele só conheceria o pai em 1831.
Em uma época na qual os homens deveriam ter amantes e as mulheres deveriam permanecer virgens até o casamento, era normal o envolvimento com prostitutas e mulheres casadas.
Porém, ser amante de uma cortesã também envolvia grandes investimentos financeiros. E esperava-se que o homem não jogasse o seu “nome na lama” por ela. Como Dumas Filho era um bastardo, não havia bem um nome que pudesse ser destruído.
Entretanto, ele já era um escritor e frequentava as rodas culturais de Paris quando conheceu Marie Duplessis, uma jovem cortesã que tinha clientes como o compositor Franz Liszt.
Marie Duplessis
Ela foi a grande inspiração para que o autor escrevesse “A Dama das Camélias”. Inclusive, quando ele rompeu o relacionamento de 3 anos com Marie, escreveu uma carta que continha o seguinte trecho:
“Minha cara Marie, não sou rico o suficiente para amá-la como eu gostaria, nem pobre o suficiente para ser amado como você gostaria que eu fosse”.
Esse trecho também pode ser visto em “A Dama das Camélias”, em um momento de grande sofrimento para o apaixonado Armand Duval. Ele não tem dinheiro o suficiente para sustentar os luxos de Marguerite Gautier, mas que se incomoda que – como ela mesma diz – “um milionário faça sua cama”.
A obra foi escrita logo depois da morte de Marie Duplessis. Sofrendo com essa perda, o autor escreveu uma obra que se baseava no romance dos dois. Mas não se sabe até que ponto ele foi fiel aos fatos.
Em 1851 a obra foi adaptada para o teatro pela primeira vez. E foi considerada imoral pela sociedade.
A Dama das Camélias
A obra narra a história de amor entre Armand Duval e a cortesã Marguerite Gautier. Ele é formado em direito, mas como muitos jovens da época opta por viver de rendas.
Ela é uma das mais famosas cortesãs de Paris. Entretanto, morre de tuberculose. Não se preocupe, isso não é um spoiler. O fato de que Gautier está morta é declarado nas primeiras páginas do livro.
Aliás, na obra Armand está contando a história dos dois para um amigo. Este, havia estado no leilão dos pertencer de Marguerite – que morre cheia de dívidas – e havia comprado a edição de “Manon Lescaut” que havia sido um presente de Armand.
Querendo um lembrete da amada, ele vai atrás do rapaz para recuperar o livro. Os dois acabam se tornando amigos e, por isso, Armand conta tudo o que aconteceu entre ele e a senhorita Gautier.
Esse jovem é quem escreve a história. Segundo ele, pelo fato de que Marguerite não era como as outras, não havia perdido o coração. Portanto, merecia ter sua história contada.
Isso é uma coisa importante sobre esse livro. Além de toda a sua beleza, “A dama das camélias” não tem nenhuma intenção de romantizar a prostituição da época.
Embora essas moças não sejam tratadas com preconceito pelo autor, ele deixa claro o sofrimento delas. E nisso, a obra pode ser comparada com as pinturas do francês Toulouse Lautrec, que pintou muitas cortesãs. Inclusive as do famoso cabaret francês Moulin Rouge.
Moulin Rouge e A dama das Camélias
O Moulin Rouge é um cabaret francês que foi construído em 1889. Atualmente, ele é um dos pontos turísticos mais famosos da França.
O local é tão famoso que, além de ser retratado por pintores como Lautrec, ele foi retratado em filmes. Um deles, foi o de 2001 que contou com direção de Baz Luhrmann. Além disso, ele teve como atores principais Nicole Kidman e Ewan McGregor.
Uma curiosidade é que esse filme tem como plano de fundo a história de “A dama das camélias”. A primeira estrutura da obra é toda baseada no livro. Inclusive, o fato de que você sabe desde o começo que Satine – a cortesã – está morta.
Porém, no filme é o próprio amante quem escreve a história dos dois.
Curiosidades literárias
A Dama das Camélias foi adaptada diversas vezes para o teatro e o cinema. Inclusive, em 2008 foi lançado o musical Marguerite, em Londres. Entretanto, a mudança para um novo cenário de mundo durante Segunda Guerra não agradou nem o público e nem a crítica.
Mas existem algumas curiosidades da obra que ficam na literatura. Como eu disse, Marguerite lê “Manon Lescaut”. Essa história foi publicada em 1731 e é a história de amor entre um jovem e uma cortesã.
Apesar disso, são histórias completamente diferentes. Tão diferentes que Marguerite julga Manon e acha que ela não amou o suficiente.
No Brasil, José de Alencar escreveu Lucíola. A história de amor entre um jovem e uma cortesã. Entretanto, mais uma vez suas provas de amor são diferentes das apresentadas no outros livros.
Lucíola lê Manon Lescaut e A Dama das Camélias, mas não acha que nenhuma das duas soube amar como ela.
Eu li as três e, na minha opinião, nenhum do autores soube escrever uma história de amor tão profunda como a de Alexandre Dumas Filho. Talvez seja o fato de ele ter vivido uma história parecida.
Mas não é à toa que “A dama das camélias” seja a mais conhecida delas.
Se interessou?
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Já baixei no Amazon! ahahaha
Raras vezes na historia da literatura uma prostituta foi tratada com tanta delicadeza, com tanta compreensao, com tanto realismo – e com tanto amor. Marguerite Gautier continua a fascinar leitores e leitoras, mais de 150 anos depois de o romance de Dumas Filho ter sido lancado. E como se, na nossa imaginacao, ela tivesse vivido para sempre no esplendor, linda e desejada, em meio a suas camelias. Ela passou brilhantamente pelo teste do tempo, que consagra ou deleta as criacoes literarias. Por tudo isso, tem um lugar de honra na lista das maiores personagens da literatura mundial.