O dia era 25 de outubro de 1969. Madre Maurina tinha 43 anos e foi levada pela polícia para prestar depoimento. Lá, ela foi torturada e, possivelmente, estuprada pelos militares durante 5 meses.
Acho curioso o fato de essa história ser tão escondida. Fui criada em família católica, sempre frequentei a igreja e nunca havia ouvido ninguém falar em Madre Maurina. Nem mesmo em 2011, ano no qual ela faleceu.
Madre Maurina era a responsável pelo Orfanato Lar de Santana, onde viviam 220 crianças. A acusação foi de ceder um espaço do orfanato para as reuniões dos estudantes que participavam da FALN – Forças Armadas de Libertação Nacional.
A madre foi levada diversas vezes de sua cela para sessões de torturas. De acordo com a jornalista Denise Assis, que conversou com a Madre pelo telefone, ela chegou a confirmar que havia sido estuprada.
Uma companheira de cela da Madre, Áurea Morete, afirmou à Comissão da Verdade que a Madre sempre voltava chorando para a cela. Entretanto, ela não gostava de falar sobre o que havia acontecido durante as torturas – compreensivelmente.
A causa da prisão
Quando a madre assumiu o Orfanato Lar de Santana, um grupo de jovens se reunia em uma das salas do local. Isso havia sido autorizado pela administração anterior e a Madre somente permitiu que continuasse.
Ela não sabia a causa das reuniões e nem mesmo que aquelas pessoas agiam ativamente contra a ditadura militar. Quando alguns deles foram presos, ela decidiu ir até a sala investigar o que estava acontecendo.
Ao encontrar panfletos e outros papéis que incriminavam os rapazes, ela resolveu queimá-los e encerrar o assunto. Esse foi o motivo de toda a tortura.
O fim da prisão e as polêmicas que ainda a cercam
A Igreja Católica Brasileira fez muita pressão para que a freira fosse libertada. O frei Felício da Cunha excomungou os dois delegados responsáveis pela prisão dela, Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano.
Foi determinada a soltura da madre, mas não lhe foi dada a liberdade. Ela foi exilada do Brasil e só pode voltar em 1985.
Uma das polêmicas que ainda cercam o caso é uma suposta gestação. Ninguém sabe ao certo como essa história começou. Mas especula-se que a madre tenha engravidado de um dos seus torturadores e a criança não tenha conseguido nascer. Talvez por um aborto decidido pela madre, talvez causado pelas torturas.
Ela nunca quis falar sobre assunto.
Madre Maurina morreu em 2011. Ela tinha Alzheimer e vivia em Araraquara. Seu nome, assim como o de tantos outros torturados, jamais deveria ser esquecido.